Para satisfação dos meus
apetites, não há como acirrar o apetite dos outros.
Aconteceu aos chamados
países de leste que, na pressa de enriquecer depressa, atiraram fora a água do
banho, com a criança e tudo, e está acontecendo agora, connosco, pobres diabos,
que ansiosos por pertencer ao clube dos ricos, ao pelotão da frente, vamos
recuando para níveis inferiores aos do século XIX.
Era preciso abater barcos,
abrir a costa à pilhagem estrangeira?
Porque não? O mar é tão
grande!
Impunham que arrancássemos
cepas, oliveiras, sobreiros, pomares e plantássemos eucaliptos?
Para já!
Esperava-nos um mercado de
centenas de milhões, com povos suplicando os produtos portugueses?
Que negócio!
Adiantavam-nos dinheiro para
construção de estradas, ficando mais fácil viajar de Madrid do que chegar a
Beja ou Viseu?
Estávamos a europeizar-nos,
estúpido!
Campionatos de futebol,
seniores ou infantis, exposições universais, capitais da cultura, regatas
mundiais e do que mais nos lembrarmos entre duas garfadas?
Era prestígio, civilização,
Sampaio o disse.
E o dinheiro sumiu-se,
quedaram-se as dívidas, a sujeição a tratados, prisão a compromissos, o atraso
estatuído, a escravização para sempre, se, de abúlicos, submissos, agradecidos
e endividados, não exigirmos respeito, cidadania, direitos.
Não com estes que farejam
boas postas na Europa do retrocesso, nem com valentões de farda que lobrigam
soberania em terras do Afeganistão e inimigos traiçoeiros na Patagónia de Cima,
sossegando a consciência, se é que têm alguma, e justificando a despesa, que é
muita.