domingo, 29 de junho de 2014


Ainda há quem diga que a nossa inteligência é igual à doutros.
Dêem-me segundo exemplo de previsão tão fina e passo a considerar-me normal como qualquer cidadão do mundo.

O sempre inexistente ministério da cultura, a compensar orçamento e secretário minúsculos, contratou uma técnica para arrumar cadeiras e guiar requerentes que porventura surgiam.
E adivinhem, se possível, a especialização da dita.

Nada mais nada menos do que prótese dentária, com diploma, provavelmente, da oficina da esquina.
Prevenindo-se, pois, contra as cáries da fome e fatal ranger de dentes, dotou-se a tutela de quem saiba o modo de tratar-nos da saúde.

Felizmente mulher, que a macieza é outra.

Há que ser realista.
De facto, de que serve gastar dinheiro com a educação, se quem sai das escolas não tem onde empregar-se?

A investir em formação, que seja em coisas úteis, como hotelaria, cozinha, criadagem de mesa, cabeleireiros e mulheres de limpeza, pois o turismo, isto é, servir os outros, é aquilo que nos cabe na repartição do trabalho, na Europa e no mundo.
A não ser que consigamos convencer os alemães a dar-nos X por cabeça que saia já formada.

Solução que não me parece viável, pois um possível cliente, teutónico ou de outra raça qualquer, há-de preferir a borla de ter para si o proveito sem esportular um tostão.
Aliás, ao turismo, vão-se acrescentar adjacências, entre as quais já vejo a reparação de carros.

Porque, fiáveis embora, estão também sujeitos a más disposições, particularmente com o tempo incerto.
Abre-se, assim, um leque de imensas possibilidades, pois sempre são precisos porcas e parafusos e até chaves e torniquetes.

O que nos espera, então, não é assim tão negro, como alguns nos fazem crer.
Acrescente-se, ainda, a prostituição decorrente, a contabilizar, doravante, segundo as recentes normas da U.E.

Haja paciência, que a riqueza vem aí.

sábado, 28 de junho de 2014


Cedo o espertalhão de ofício haverá descoberto que trabalhar é custoso e dá, de facto, trabalho.
E, se a metodologia não muda, como creio, ou semelha a utilizada hoje, ao apanhar alguém dessedentando-se na fonte, saltava-lhe ao caminho e exigia paga.

Os tempos complexaram-se, as instituições também, e temos hoje que pagar por viver ou morrer, por andar ou estar parado, por ter cão ou por não ter.
Furta-se à voracidade do chulo o ar que respiramos, o viciado, que o puro já está privatizado.

Privilégio que não se manterá por anos, pois há ciência brevetada que descobrirá um aerímetro, a galopar como o que temos para a água ou eléctrico, quando insistirmos em respirar, com factura acrescida de taxa de sustentabilidade, e outra de solidariedade, e outra de necessidade, e outra de desnecessidade, já que não é justo retermos oxigénio e expelirmos anidrido, segundo o saber escolar, pois, pessoalmente, nunca o vi.
Será sempre possível, por direito inaleanável, recorrer a tribunais, recrutando advogados, peritos contabilistas, um economista doutor e fotógrafo licenciado, este para demonstrar com retrato anexo que, entre os minutos 4 e 6, fiquei de respiração suspensa, ao receber o salário do mês que já se foi.

A mando de uma Europa democrática e cada vez mais próspera tinham-me abocanhado mais 30% e subsídio de Natal.

quinta-feira, 26 de junho de 2014


Andei por vários sítios e não me lembro ter visto uma coisa tão reles, tão desgraçada, tão vergonhosa.
Uma vez por outra, há referência a crimes, mas de modo tão rápido e contrafeito, que tem-se a impressão do apresentador de serviço fazer o que lhe impõem, de dedos no nariz.

Entre nós, nada disso.
O comprazimento é enorme, todas as circunstâncias sórdidas esmiuçadas, as entranhas da vítima expostas à claridade do sol.

Busca-se na vizinhança quem espreitou pela fechadura e as comadres de aldeia gozam momentos de celebridade.
Com o futebol, o mesmo.

Escolhem-se pela cara os que dão garantias de mais boçalidade e o comentário alonga-se por passes, fora-de-jogo, arbitragens e lesões, com nomes, próprios e atribuídos, na ponta da língua, de jogadores, treinadores, massagistas, técnicos, merecendo o relvado algumas considerações.
É certo que noticiários de uma hora ou hora e tal não são possíveis porque o dinheiro faz falta; entre nós, porém, corta-se na educação e injecta-se na deseducação.

Dantes, irritava-me ouvir chamar ao país laboratório de testes, visto as experiências serem conhecidas há muito. Hoje reconheço uma certa verdade, julgando que se experimenta aqui até onde a degradação pode ir.

sábado, 21 de junho de 2014


Duas condições incontornavelmente prévias: endividamento e estupidificação.
E não faltaram estímulos ao gasto desmiolado e prontamente aceite, que o arrivismo bacoco viu capitalismo generoso a baixar até nós, pedindo-nos, por favor, que concorrêssemos com ele e roubássemos o cliente.

Com facilitações e laxismos, a partir de 68, dá-se a quebra de exigência no que fosse pensamento, estudo, informação, espectáculo, tanto que são padrões de excelência os rábulas do direito torto, os fazedores de choradeiras, qualquer malta de patorra pronta, capaz de derrubar balizas.
Depois, foi só apertar o cerco e garrotar em juros, chantagear com medos, institucionalizar incertezas.

Ao afogado, sabe-se, toda a ajuda é mercê e assinará compromissos, entregará o que tem, vender-se-á ao diabo, render-se-á a quem queira
Agentes desta parvónia que lhe enrolassem a corda em torno do pescoço e membros, por pãozinho com manteiga, havia que sobejavam, já que o esfomeado não tem pejo e o bípede, que não homem, torna-se animal feroz.

Comprovam-no relatos dos campos de concentração, a guarda pretoriana a escudar senhores, traições despudoradas de adoradores do poder.
Sossegue-se, contudo, que Bilderberg cozinha os salvadores da pátria e do mundo.

sexta-feira, 20 de junho de 2014


Ninguém se interroga sobre a súbita pressa do enigmático Costa.
Ele, que ainda há pouco, acordara segurar o Seguro que, boçal e vendido, está a empurrar o PS para um minguamento previsível.

Repentinamente, o sô Costa larga o rosto inexpressivo que afivelara antes e jura, não pelo pai, que era uma excelente pessoa, mas pela mãe, estar disposto a arrostar qualquer fúria dos elementos e bater-se pela conquista da direcção do partido.
Ter-lhe-ão telefonado do Club Bilderberg, onde a criatura esteve e mantém as amizades?

É que o momento está difícil, com o socialismo da mentira mais e mais desmascarado, chame-se PS ou UGT.
E as pessoas, sem verem opção mais cómoda, vão-se virando no sentido do PCP que, desde há muito, está clamando ser a soberania de um povo, o oposto do colaboracionismo.

Imagine-se que tragédia, na vida dos videirinhos, se se ouvisse cantar de novo, nesta Ibéria espezinhada, que vale mais morrer de pé do que viver (vegetar) de joelhos.
“Antes morir de pie que vivir de rodillas” - Pasionaria o disse.

quarta-feira, 18 de junho de 2014


O ideal é o papá ter sido dono de uma ou mais roças em África e, desde menino, ou menina, saber como espremer o escravo ao nosso mando.
Faltando a experiência dita, basta um simples familiar, chegado ou não, ter terreno nas bandas da Galiza de baixo ou latifúndio em terras alentejanas.

A derradeira hipótese é da preferência de “socialistas” e a primeira tem a predilecção do PSD e CDS.
O diploma superior é muito fácil de obter, por subejarem faculdades, dentro e fora do país, que descobriram o furo e fazem bom dinheiro em mestrados, doutorados, pós-graduações e o que a imaginação humana e o jeito para o negócio poderão sempre inventar.

O nosso herói, lá de cima, tem a agudeza de distinguir um Alvarinho de um Loureiro, ainda que especializado em instalações eléctricas.
Dá garantias, também, porque, cordato e concordante sempre, encarna o exemplar perfeito do yes-man ou, em vernáculo de Alfama, choninhas.

Teve a sorte, além disso, de completar um estágio na chefia de jotinhas, o que abona, irrefutavelmente, a ascensão a sábio e medalhamentos locais e universais.
Com currículo tão subido, não vejo lugar para dúvidas no desempenho da missão que os astros e o governo determinaram confiar-lhe.

Se demora em decidir e está à espera do mau tempo, é que uma acção de resposta à natureza adversa exige ponderação e calma e uns contributos de Bruxelas, que nós estamos a tinir há muito.
O pé-de-meia que havia foi canalizado para obra que acabará em Setembro, se as contas baterem certo.

E é precisamente aqui que a inteligência se revela: sendo os máximos do mau tempo a aproximar-se nesta altura, ver-se-á se S. Jacinto fica ou embarca para longes terras.
Resistindo, intervir-se-á, então, no litoral que restar.

Esta perspectivação científica baseia-se, como muito bem se sabe, no método das tentativas e erros.
Razão para medalhação a dobrar.

terça-feira, 17 de junho de 2014


Para satisfação dos meus apetites, não há como acirrar o apetite dos outros.
Aconteceu aos chamados países de leste que, na pressa de enriquecer depressa, atiraram fora a água do banho, com a criança e tudo, e está acontecendo agora, connosco, pobres diabos, que ansiosos por pertencer ao clube dos ricos, ao pelotão da frente, vamos recuando para níveis inferiores aos do século XIX.

Era preciso abater barcos, abrir a costa à pilhagem estrangeira?
Porque não? O mar é tão grande!

Impunham que arrancássemos cepas, oliveiras, sobreiros, pomares e plantássemos eucaliptos?
Para já!

Esperava-nos um mercado de centenas de milhões, com povos suplicando os produtos portugueses?
Que negócio!

Adiantavam-nos dinheiro para construção de estradas, ficando mais fácil viajar de Madrid do que chegar a Beja ou Viseu?
Estávamos a europeizar-nos, estúpido!

Campionatos de futebol, seniores ou infantis, exposições universais, capitais da cultura, regatas mundiais e do que mais nos lembrarmos entre duas garfadas?
Era prestígio, civilização, Sampaio o disse.

E o dinheiro sumiu-se, quedaram-se as dívidas, a sujeição a tratados, prisão a compromissos, o atraso estatuído, a escravização para sempre, se, de abúlicos, submissos, agradecidos e endividados, não exigirmos respeito, cidadania, direitos.
Não com estes que farejam boas postas na Europa do retrocesso, nem com valentões de farda que lobrigam soberania em terras do Afeganistão e inimigos traiçoeiros na Patagónia de Cima, sossegando a consciência, se é que têm alguma, e justificando a despesa, que é muita.

domingo, 15 de junho de 2014


Tinha acabado de ler sobre o tratado transatlântico que cozinham em segredo e saiu-me apenas “qual é o nosso papel?”
Não estava sozinho e houve uma resposta pronta, “higiénico”.

Dizer melhor, impossível.
Os povos, depois de décadas de estupidificação e doses cavalares de futebóis e crimes, estão reduzidos a uma expressão tão reles que um badameco qualquer põe e dispõe sem lei, fazendo das pessoas capacho, impante de impunidade.

E, porque quem os passeou ao colo quer aparentar lisura, destemperam em bacoradas, exigem punições severas.
Eles, casos extremos de corrupção, arteiros de profissão, comedores a vários tachos, parasitas da sociedade.

A história, repetindo-se, diz-nos que todas as épocas morrem afogadas em vómito e esperemos que a podridão em que continuamos a afogar-nos seja prenúncio de um tempo em que o homem venha a ser homem, finalmente, e supere a animalidade.

sábado, 14 de junho de 2014


Ouve-se com frequência dizer que quem dá o que tem a mais não se obriga.
Exige-se, porém, um pouco de cuidado ao interpretar o dito porque os que, no presente, desgovernam, dão exactamente o que a animalidade lhes permite.

E o asserto, tanto quanto parece, olha com simpatia a boa gente deste mundo, que, acanhada nas ideias, fica pelo convencional e paz universal, inimigo incluído.
São eles sempre dispostos à recolha de alimentos, participação em peditórios, obrinhas de caridade, capazes, mesmo, de lastimar o sofrimento alheio, chorar quem morre abandonado à sorte, porque hospitais e médicos distanciam-se e negam-se.

Apesar de os culpar pela porcaria em que vivo, consentidores que são, nutro simpatia por um virtuoso desses, que, na polivalência actual de paus para qualquer roupa, dizem-no comentador, jornalista, escritor, poeta e, procurando bem, títulos, pergaminhos, diplomas não lhe faltarão, por certo.
Boa pessoa, creio, incapaz de canalhice, esforçando-se por mesura e justiça.

Contudo, o sangue diluído em cordura e bonachice, finda por aceitar o que revolta exige.
Estava em terreiro a vigarice, de uns tantos, que, em período de eleições, são promessas e sorrisos, mas, desde que alcandorados com a patetice dos crédulos, enfuriam-se na depredação, espezinham as leis, cidadãos, futuro, quatro anos inteiros, com total impunidade, graças aos cânones da degradação presente.

Reacção do personagem:
- Os políticos são assim.

O que nem sempre é verdade, diga-se.
Por ele, contudo, não há que estranhar o indivíduo, ou indivídua, que, condenado e demitido duas ou três vezes por corrupção, negócios sórdidos, trafulhice, possa ditar regras de conduta  e goze de omnipresência onde o arroto é possível e desejável, nesta televisão de zombies.

Falou-nos Vieira de atrasos e de cafres e Nobre lastima ter nascido onde nasceu, mas há um Portugal de Abril.
Onde?

quinta-feira, 12 de junho de 2014


Não é papeira, não senhor.
As queixadas entrapadas são um toque de chiquismo, a cereja do requinte de quem tão alto subiu, embora corpo e cara pouco ajudem.

Porque a criatura preside, presidirá, num meio de videirinhos, onde a corrupção é carreira.
Podemos enxotá-la daqui, que ela renascerá acolá, condene-a um tribunal isento, que ela se absolverá além, entre pares que a acobertem.

E até vira moralista, ditando leis e conduta, tão implantada se sente neste país de eleição.
Impunidade e descaro são pilares da monarquia em que a nobreza responde perante os Draghi do esclavagismo.

Está tudo dito, portanto, até que o coma nos deixe e ressurjamos das cinzas, literalmente.

quarta-feira, 11 de junho de 2014


Ontem vibrei de emoção patriótica à indignação furibunda de um general rechoncho, defensor temerário de quem lhe vende o país e trai a Constituição.

Estavam postos em causa a honra e o prestígio das nossas forças armadas, que permanecem à coca de um inimigo astuto, que, além de canalha é necrófago, por cobiçar um país já morto.

O patriotismo, parece, está em transição semântica, resumindo-se, no presente, a emblemas na lapela, bandeiras drapejantes nos eventos desportivos ou posição de sentido e, americanamente, a mão no peito e não mais abaixo.

Eu julgava que um país se orgulhasse do seu povo, tranquilo, feliz, laborioso, inteligente, cioso do que é seu, obedecendo a si mesmo, enlevado nos seus sonhos.

Pois não senhora, não é e lá me veio à ideia o “Arbeit macht frei”.

 

terça-feira, 10 de junho de 2014


Percebe-se a geografia das comemorações, porque, mesmo que o cerquem gorilas, estão escasseando os sítios onde se debitem, sem apupos, as solenes baboseiras que se ouviam ao Tomás e se ouvem, agora, ao excelso Cavaco.
Serviria de garante a cidadezinha da Guarda que foi fria, farta e feia, e é, neste preciso instante, fria, quanto baste, farta, tenho dúvidas, que a fome já por lá chegou, de certo, mas formosa ou formosíssima, nas palavras sagradas do oficiante televisivo.

Com a Guarda, de facto, não existiria o perigo, pois é gente humilde, sossegada, inteligente, tão impenetrável às ideias que, daqui a cem décadas, ainda votará PS, ou PSD, roubem os ditos o que muito bem entenderem.
É que não é por acaso que os habitantes da terra se dizem egitanienses, recordando, talvez, o José do Egi(p)to, que, sem mexer uma palha, viu castigado o faraó mauzão com sete das pragas que sobre nós tombaram de há uns anos para cá.

Não deixarei, contudo, de me sentir desgostoso, ao não poder ocular, viva e presencialmente, o transcendente evento que reforça a tese da história se repetir.
Sobretudo, porque, no lugar onde quedo, só encontro quem trabalhe, tentando sobreviver, e muitos outros desgraçados, na casa do milhão e meio, que, buscando trabalho, estão, ainda, por descobrir aonde.

Exactamente os que nunca irão ter uma latinha ao pescoço ou o nome gravado na estela por erguer às vítimas da exploração.

P.S. Afinal, nem na Guarda se safam.

segunda-feira, 9 de junho de 2014


Neste fabuloso país, que é mais um país de fábula, são mais os animais a mandar e os poucos homens que há só têm portões fechados, pois o ódio e a cobardia recusam qualquer palavra que não seja a do seu dono.
Os jovens que ainda restam, em vez de exigir futuro, metem os pés a caminho e vão demandar lá fora aqueles que se lhes anticiparam nas rotas da emigração.

Fica quem não pode andar, de velhice ou por doença, e, à falta de sangue fresco, o vampirismo local suga o que antes rejeitava.
E num inauditismo da história, por não haver quem o faça, hão-de trabalhar estropiados, a troco de um naco de pão, se querem não morrer de fome.

Já vejo mesmo por perto um arremedo de Goebbels, mais físico e não mental, porque o alemão era mau, mas esperto, e o nosso é igualmente mau, mas burro.
É de prever, até, que, em aeroportos, fronteiras e nos cais das estações, se esqueçam as frases banais de boas-vindas a quem chega, sendo os viajeiros acolhidos à boa maneira nazi, com um “Arbeit macht frei”.

A formigação hollywoodesca dos esfarrapados das pirâmides, nos filmes de B. De Mile, será uma realidade aqui, por faltar-nos a dignidade de dizer não à escravidão

sexta-feira, 6 de junho de 2014


O meu tio Jorge não é do governo nem director de coisa nenhuma, mas também às vezes engana-se e diz coisas certas, que dão que pensar.
A diferença é que, quando tal lhe acontece, o lapso resulta da ingenuidade de pessoa que ainda conheceu valores, noutros tempos.

Ontem, por exemplo, até julguei ouvir o nosso presidente, tão óbvia foi a constatação que fez:
- Agora, a propósito de tudo e de nada, há um alerta amarelo.

Eu, que não dera por isso, fiquei assombrado com a profundidade da observação e conclui que, de facto, andamos num sobressalto permanente socio-político-histórico-geográfico-metereologicamente falando.
Há-de haver uma má fé em manter o cidadão assustado, mas talvez já se enquadre na nossa forma de ver, depois da governação ter encontrado no medo o que melhor lhe serve no projecto de destruição.

E a chantagem é uma arma.

terça-feira, 3 de junho de 2014


A nova doutrina há-de fazer jurisprudência e ouviremos, em breve, nos tribunais, os advogados de defesa alegar abertamente que o culpado do delito não é o delinquente, mas uma lei restritiva que lhe coarta a liberdade e limita a cidadania.
Não fiquem, porém, a supor que vejo no governo uma associação de criminosos, porque, pelas palavras e obras, sei que é uma gente muito séria, de uma honestidade a toda a prova, inteligente, sensível e muitíssimo sabedora, tão devotada ao país que, mesmo com 1% dos votos, manter-se-ão no comando, até que de fora os chamem para missões universais.

O que admiro e aplaudo, pois, como muito bem disse o chefe, ele tem inspiração divina que o obriga e a que obedece.
E estava nos desígnios do céu que a redenção nos chegasse das nossas colónias de África.

Cabe-me dar graças a Deus por permitir-me ainda ver esta bem-aventurança na terra e a desforra dos retornados.

As aparências iludem, mas ele não enganará ninguém, tão ridiculamente formalista que a mulher, se é casado, há-de ter de consultar os códigos, antes de o desafiar para a luta.
E, num país ainda vivo, seja em que latitude for, se há criação de futuro, são de esconjurar mesuras e as murmurações de uma múmia.

Contudo, o amanuense de Gogol, a quem, pela cara se vê, fanaram também o capote, foi, numa terra à deriva, ministro de suma importância, emérito em redigir pareceres, de letra francesa ou gótica e muita vírgula pelo meio.
Quem, sem dons de adivinhação, procure onde a criatura encaixa, encontrará um partido, que, tendo desandado no tempo, defende o que o ideário lhe nega.

Não custa, pois, entender que, em mãos de gente tão rara, não saiamos deste imbróglio em que nos atolamos há anos