domingo, 24 de agosto de 2014


Conhecedor do país, sem continuador à vista, por um fatal acidente, o homem, como foi apodado pelos Reis Católicos, anteviu que não era a mulher beata ou um familiar arrivista que lhe entenderiam o esforço e completariam a obra.
E os burros, através dos tempos, vão-no escoiceando, cadáver e memória, porque é virtude nossa ser forte com o fraco e, sobretudo, com mortos.

Estremeções, por vezes, ora aqui ora acolá, e prolonga-se a história da bovinice de pasto que permite a putos, arruaceiros e sem moral, destruir o que não vendem, obedecendo, atentos, às ordens do ocupante.
Haja o que houver o que queremos é feno e nada nos arranca a focinheira do chão, mesmo que aconteça a poucos metros do pasto.

Podemos pode ser com os vizinhos, connosco só pode ser não podemos.
De prever, um desastre total

Numa das minhas deambulações por África, encontrei certa vez, um sujeitinho  mestiço que falava dos seus como se fossem cães.
Já antes, pelas partes de Lisboa, foi-me dado conhecer um colonialista castiço, bem visivelmente mulato, muito castiço no trajo que impunha capacete e tudo, gabando-se de escavacar queixadas, se os pretos tardassem a cumprir-lhe as ordens.

Julguei que tentavam, por fingimento ou raiva, ser mais brancos que brancos, os seus superiores.
Também vira escrito que os catalães ferrenhos descendem da emigração que a fome trouxera da Andaluzia inóspita.

E a praga da gente que não se crê nem carne nem peixe, surge agora com força, numa mestiçagem económica, da meia-tijela, que não tem, mas quer ter, que não é, mas será, disposta a vender-se em colaboracionismos, traições, se a via lhes oferece proventos e benesses na corte patronal.
É que custe o que custar, eles hão-de lá chegar, venda-se o pai, a mãe, o país, se necessidade requer.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014


Tirando casos de extrema perversidade ou violência, raramente ouvi, em televisões estrangeiras, referência a crimes, acidentes, incêndios.
Aqui, graças a Rangel, conforme me foi dito no pangenírico ao defunto, sádicos, masoquistas e necrófagos têm pasto largo em noticiários e programas próprios, onde tudo é dito, redito, esmiuçado, comprovado, comentado, uma insistência de maníaco, capaz de penetrar nas meninges mais duras e encontrar conchego nos cérebros mais fluidos.

E, sendo o objectivo capitalista estupidificar o mais possível para explorar o mais possível, é esquisito que a lição não se expanda, a não ser que os outros povos, mesmo aquém da lucidez, tenham ainda a exigência de que os vejam como gente e não manada.

Finalmente, em total acordo com os negreiros: isto não pode continuar.
É que não é só a pobreza económica, mas a mental, a criativa, a artística.

Olhe-se o cinema, a pintura, a música, clássica ou ligeira, porque até esta atingiu uma tão grande desgraça que causa estranheza a aparente desatenção da sociedade em geral e dos que a tal se dedicam, por disso fazerem a vida deles.
Arrepia-me, mesmo, esta nossa complacência, pois o alheamento afectado dos que se arrogam de entendidos não é possível explicar pela desonestidade de quem dorme com o primeiro que encontre, se pagar, mas pela cobardia do meio século de fascismo, que, com a indignidade, pesa imenso na tratandada política que uns poucos persistem em apodar de democracia quando, de facto, é uma cleptocracia criptofascista.

domingo, 17 de agosto de 2014


Constou-me, não li nem ouvi, que um desses cascudos que os tempos promovem da banca do peixe para a banca de deputado, mostrava surpresa e indignação porque um avençado da Câmara do Porto falou de cultura ou da ausência dela, ligado que está ao teatro, suponho que o moribundo TNP de António Pedro.
Não sei o que o futuro reserva, mas à força de caminhar contra a História, ainda verei o país pastoreado por capos, com a submissa manada a evitar pontapés.

A cobardia parece ser, de facto, coisa que uma inteligência vulgar jamais entenderá.
Basta ver os mesmos que se deixaram exterminar, caninamente, em campos de concentração, hoje, face a uns palestinos esquecidos, traídos pela comunidade internacional, não hesitam em copiar e ampliar o que eles próprios sofreram às mãos do carrasco nazi.

Recalcamentos transmudados em ódio e vingança?

terça-feira, 12 de agosto de 2014


Inimputáveis, três tipos de indivíduos: banqueiros, políticos e loucos, mas só os últimos não sabem aproveitar-se do privilégio da lei e, por isso, é que são loucos.
Os primeiros, por terem a mão na massa, breve que seja a investidura no cargo, a conta de familiares e amigos, em paraísos fiscais, cresce vertiginosamente, assustadoramente.

Os segundos têm, primeiro, de preparar o ninho, aprovando regras e normas que os patrões agradecem e fazem privatizações que lhes compõem currículo e asseguram futuro, muito simplesmente em poltronas que as administrações reservam.
E assim é e há-de ser para sempre em nome do Pai, do Filho ou do Espírito Santo, bilionário na Suíça, ou algures, enquanto o pagode não despertar da bruteza em que o puseram desde há muito, para que a farra prossiga e possa ser de estadão.

domingo, 10 de agosto de 2014


Um jornal de Israel preocupou-se muito com uma coruja dos campos, talvez nas mãos de um palestino terrorista.
Admito que haja alguma gente capaz entre a corja sionista, mas a maioria, em sondagem, acha natural que tenha vindo do mundo para ocupar a Palestina, expulsando ou escravizando todos os que lá viviam e quem se oponha há-de ser tratado a tiro.

Contra pedras, balas reais, contra foguete que não acerta, a destruição maciça.
Tudo com o beneplácito de Washington e as palavras piedosas de uns macaquinhos da ONU, que, em vez de condenar quem lhe inflige as decisões, limita-se a apelar à cordura, de ambos os lados.

Contudo, para que o morticínio acabasse bastava fazer cumprir a decisão de 65, com um cordão de segurança de capacetes azuis, entre invasor e invadido.

A guerra foi sempre uma atitude de cobarde, porque nunca ninguém se aventurou contra outro sem estar convencido de que tem por si a superioridade das armas.
Presentemente, o cobarde nem sequer dá a cara, atirando os drones contra uns diabos que nem podem ripostar.

Voltámos, assim parece, aos velhos tempos da gloriosa campanha fascista na Abissínia, onde os indígenas se defendiam com arcos e flechas dos aviões italianos que os bombardeavam.
Resta-nos a palavra de um troca-tintas que diz defender cidadãos americanos e não sei que crenças.

Uma vez mais, a justificar a pilhagem, empurram-se pessoas ao desespero, para, depois, as rotular de terroristas.
Porque toda a mentira é válida, se houver algures um cheirinho a petróleo.

Internado pela quarta vez.
Falha o coração onde não falta a vontade, sem conselho que valha, sem barreira que o detenha.

Há-de morrer lutando.
Por um país, em que a reacção se aferra a privilégios de outrora, ganhos com crueldade e matanças.

Foi Espanha dominadora, querendo sujeitar o mundo num só mando e um só rei, mãe dos actuais impérios.
Mas caricata, agora, com um reizinho de opereta, figalgote decadente, insistindo em fingir o que, em verdade, não é.

O homem, a quem a morte assedia, vem-se rebelando desde sempre à pretensão idiota e, ao sonhar em volta, vê uma Espanha diferente, ressurgida do mofo, criativa, progressista, revolucionária.
De pessoas vivas, em suma.

Poucos o ouvem e muitos poucos entendem, julgando-o um utopista à deriva e dando-lhe o destino dos que se anticiparam na história.
Dia virá, contudo, em que a Espanha, a sua Espanha, verá que, mesmo em tempo de anões, nascem por vezes gigantes.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014


Um dos muitos enigmas da humanidade é, sem dúvida, esta coisa tão pequena dar prodígios de tal tamanho e em número quase infinito.
Não há dia que não vejamos o mundo, arregalado, a roer-se de inveja, embora, em simultâneo, nos dêem, noticiaristas e quejandos, espiolhadas referências ao país, provando aos indígenas que não só existimos, como até sabem que existimos.

Imaginem, portanto, a honra e a vaidade por haver um português a acolitar senhores em bancos e instituições mafiosas de Bruxelas ou New York.
Tem-se, por exemplo recente, o gigante economista que não acertava as contas e acabou premiado nas hostes de destruição maciça.

Mais espantoso, porém, é nunca ninguém perguntar quais as razões verdadeiras para a atribuição do prémio, já que pelos erros não foi.
E é bom não esquecer que o homem, mesmo com tropeções diários, teve o mérito de levar a cabo a missão que lhe incumbia: pôr Portugal de rastos.

 

Desde que me conheço, não há socialista que não tenha bons argumentos para não se comprometer com nada, mas sempre pronto a chafurdar na lama, se se perspectiva abocanhar o que quer que seja.
Nestes quarenta anos de democracia de opereta, já abancaram com PSD, CDS, e não mais, porque, por enquanto, são poucos os partidos dispostos a vender-se.

Bloco de Esquerda e PCP não se dispuseram a partilhar-lhes a cama, mas julgo entrever a alguma distância um populista caceteiro que lhes dará bom jeito.
E, socialistas que são, quando não estão no governo, vemo-los, socialisticamente, confortados na administração de empresas ou direcções chorudas, dentro ou fora.

Recordem-se nomes, descubram-se onde estão e será divertido, se não trágico, vê-los privatizando e não socializando.
Já estão na peugada dos velhos liberais, ou outros que tais, nascidos à esquerda, presentes à direita.

Haja que abichar que dignidade e moral não há

terça-feira, 5 de agosto de 2014


Conclusão, Einstein errou.
Duvidou da infinitude do universo, não da estupidez humana, que, essa, sim, é infinita.

Estão surgindo, contudo, manifestações de inteligência, em pessoas e grupos, neste momento de horror, como os movimentos cidadãos Podemos ou Frente Cívico Somos Mayoria e os próprios cidadãos Navarro e Illueca, isto para não citar senão dois.
A Espanha, embora amarfanhada por uma das reacções mais retrógadas, quer caminhar para um século de oiro, que despontou em tempos e o fascismo decapitou.

Cá por casa, também, há umas luzinhas esparsas, como do mesmo modo acontece noutros sítios, com Chesnais, Eagleton, Lapavitsas ou Harvey.
Onde, contudo, o sol é mais intenso, num quotidiano hesitante, ainda, mas vivo, crescente e determinado, é pelas Américas, Central e Sul, Venezuela, Bolívia, Equador, Uruguai, Nicarágua, El Salvador e Cuba, razão por que a sanha dos negreiros referve, calunia, envenena, apesar dos testemunhos da UNESCO, FAO, OMS e até ONU no seu todo, quando referem a erradicação da pobreza ou o acesso ao ensino, cuidados de saúde, bem-estar dos povos.

É lá, igualmente, que a penúria que Navarro assinala em manifestações dos seus, muito dados a assobios e algazarras, mas pouco dados aos cantos e a coros, é lá, repito, que a canção envolvente, mobilizadora surge, avança, crescendo imparavelmente.
Oxalá se imponha e vença, que o sistema, no estertor da agonia, não hesitará perante nada, querendo segurar o que lhe escapa.

Provam-no os ressurgimentos nazis e a guerra permanente, que, de larvar em diversas sítios, pode degenerar em loucura, à escala do planeta.
A fera, pressentindo a morte, é duplamente feroz.