terça-feira, 29 de abril de 2014


Por que motivo o rapazelho não haveria de se tornar raivoso, mais do que lhe exigira o dono.
O tipo não tem nem currículo nem valor, o diploma recente é de gestão, comunicação ou coisa assim e são milhares os encartados, que a Lusófona é, de facto, produtiva.

Mas, por mão milagreira de um Relvas para aí, o seu nome figura na lista dos bem fadados, com assessoria algures, proventos de fazer inveja.
É de esperar, sem dúvida, que se arreganhe todo a um assomo de ameaça ao tacho, até porque, na família, há cachorrinhos a aleitar, demasiado pequenos, ainda, para engrossar os jotinhas.

Desnecessário é, previsivelmente, que se lhes diga o como, pois se há algo que muito bem conhecem, é o porquê.
E este Portugal muito europeu está enxameado da espécie, por jornais, televisões, faculdades e, até, artes.

São de geração espontânea, já que partidos do arco de governação são horizontes de futuro para frustrações de meia tijela e tijela e meia.
Tome-se, pois, a sério o seu imenso amor à democracia dos capitalismos predadores ou o aguerrido patriotismo de lapela, a antecâmara histórica dos regimes concentracionários.

domingo, 27 de abril de 2014


A experiência não é garantia de juízo certeiro e nem sempre nos dita comportamentos correctos.
Se parece ser útil entre burros, não acontece o mesmo entre os homens, porque, como dizem, os primeiros não tropeçam duas vezes na mesma pedra, enquanto o homem tropeça, continuadamente, milhares de vezes.

Talvez o burro seja mais esperto e não seria eu a espantar-me, pois constato que, em matéria de teimosia, levamos a palma ao asno.
Acrescente-se a esta excelsa qualidade, um estrabismo mental que nos permite lobrigar o argueiro no vizinho e não dá para ver as trancas nos nossos próprios olhos.

A não ser assim, como se explicaria que, através dos séculos, se não milénios, aceitemos que alguém, em nome disto ou daquilo, deite uma garra adunca ao que outros produzem?
E como seria possível explicar que apontemos o dedo a quem, justamente ou não, reage contra quem o estorva e não damos pela destruição de países inteiros ou civilizações, deixando atrás o caos, como aconteceu e acontece no Iraque?

quinta-feira, 24 de abril de 2014


Vai-se-me tornando difícil entender o momento em que vivo e ainda acabarei por dizer que uma morte precoce é favor dos céus complacentes.
Ontem, assistindo, incauto, ao pequeno debate entre dois jovens de quadrantes diferentes, um, rapaz de muitíssimo mérito, graças ao papá e ao partido do mesmo, rosnou:

- Isso é ideológico.
O que era, num arroto raivoso, argumento arrasador com que esperava derrubar aquele ou qualquer outro que ousasse fazer-lhe frente.

Em cabeça de burro, por certo, já de si franzida e purulenta, ter ideias é defeito imperdoável e virtude será defender o que mais convém, pois moral e verdade pouco importam.
Se a tolice me choca, é por se ter tornado recorrente e ouvi-la a muitas outras luminárias da política, representantes do povo que os elegeu.

Porventura, assistir-lhes-á alguma razão, dadas as escolhas que vêm sendo feitas, desde que repusemos os certames eleitorais, onde damas e cavalheiros carismáticos, de apurada lábia, se esmeram por enrolar uma gente disposta a acreditar em tudo o que lhes lisonjia o ego.
Lábia treinada e sublimada, nos vários cursos de direito torto, cuja deontologia professa que tudo é bom quando está em jogo a defesa dos interesses de um cliente.

Bom advogado é sempre o mais sabido, o mais rábula, com boas relações no foro e fora dele.
O tal jovem, que daí provém, esta ideia entendeu, sabendo, de fonte certa, que esta é uma ideia inideológica.

quarta-feira, 23 de abril de 2014


Vem de longe a minha embirração com o número três, porque, educado nos sagrados princípios da religião católica, sempre me pareceu heresia dizer-se ser três a conta que Deus fez, quando está mais que provado que o mundo foi criado em seis dias, descansando o Criador no sétimo.
E, agora, quase a render a alma, o diabo tudo faz para que eu caia na tentação da ira.

Vem, primeiro, a Troika e desgraça-me a vida e o país.
Enredado no pânico e na estupidez, o bom povo civilizado (Rebelo dixit) vem votando há três anos na morte do presente e do futuro.

Há três dias exactos, foi uma proposta de lei a pretender refrear a promiscuidade devassa que nos coloca no mundo, em posição cimeira, no que concerne à corrupção.
Logo os três da vida airada, Cocó, Ranheta e Facada se uniram em força no repúdio a medida tão populista.

Ele foi a inoportunidade (PSD), ele foi a liberdade (CDS), ele foi a funcionarização (PS), tudo serviu aos três da governação para que a farra se mantenha por muitos e lucrativos anos.
Que, na arenga de um erudito presidente, se deverão estender não por mais três, mas talvez por trinta e três.

Salve-nos, ao menos, a cacafonia, neste uníssono, dos partidos de esquerda que apresentaram o projecto, PCP e BE.
Eu disse partidos de esquerda e não PS.

Capriles Radonski (que nome!) é o líder da oposição, mas estranhamente, só uma única vez o vi na televisão portuguesa, tão pródiga em noticiar a revolta do “povo” venezuelano.
Pois lastimo que não vejamos o senhor, de forma mais frequente, porque ele, na verdade, fala por si mesmo, lobo raivoso a espumar peçonha, no fatinho elegante de figurino londrino.

Estranho, também, é nunca se transmitir o que opinam dirigentes das nações vizinhas, reiteradamente, em apoio ao governo eleito, nem tão-pouco o que nos dizem a ONU e, em particular, a UNESCO.
A Gallup, até, que é costume citar, permanece esquecida, por ter posicionado a Venezuela num lugar cimeiro, após um inquérito a nível mundial ao bem-estar no planeta.

Oiço, contudo, por demais, sobre estudantes revoltosos que se batem pela educação, vindos de universidades privadas cujos custos indicam o estrato social donde provêm.
Desgraçadamente, as já citadas organizações internacionais têm louvado os esforços em curso na generalização de uma educação gratuita, não só do ensino básico, mas extensiva aos mais diferentes níveis.

Insistem os nossos papagaios dóceis, e ignorantes, numa miséria que grassa pelo país inteiro.
Mas é tanto o azar, que a UNESCO atribuiu o número 1 à Venezuela, no que concerne ao esforço na luta contra a pobreza.

Entretanto os repetidores de ofício parecem desconhecer que a carência começou com açambarcamento no privado, quando se tornou proibida a especulação nos preços, que atingiu os mil por cento.
Houvesse uma pitada de honestidade entre nós e não nos limitaríamos a repetir o que agrada o dono, já que seria fácil desmascarar a estratégia de desestabilização dirigida das embaixadas e organizações americanas para o GALI, a que pertencem FUNDAMEDIOS e IPYS.

A razão de facto está apenas no petróleo e na recusa de USA em largar a coutada, onde os escravos querem fugir ao cerco e à sujeição de um mercado único.

Aos senhoritos da Venezuela, habituados que estão a disfrutar sozinhos da riqueza do país não lhes parece bem que educação, cuidados de saúde, salário condigno, reforma assegurada e vida de bem-estar sejam direitos a usufruir por todos.
E, a mando de instrutores estrangeiros, têm organizado comandos, apoiados no lumpen, à boa maneira de uma Alemanha nazi.

As mortes que nos têm mostrado como resultado da repressão são muitas delas esclarecedoras.
6 condutores de mota decapitados pelo arame farpado que atravessava a rua; 5 membros da Guarda mortos no enfrentamento com grupos provocadores; 8 cidadãos assassinados ao arredarem barricadas, entre os quais se contava Adriana Urquiola, 28 anos, grávida de meses, intérprete de linguagem gestual; 1 Procurador da República caído numa emboscada; 1 militante chavista abatido com um tiro na nuca.

E há estudantes mortos, é certo, como Angelo Vargas, presidente do Centro de Estudiantes de Administración y Contaduria, assassinado à saída de uma reunião em que enfrentou os estudantes opositores.
E as heróicas acções do “povo” revolucionário são autocarros incendiados, estações de metro vandalizadas, a universidade UNEFA destruída pelas chamas, alimentos destinados aos mercados públicos reduzidos a cinzas, instalações eléctricas sabotadas, centros médicos devastados, edifícios ministeriais saqueados.

Tudo me faz lembrar o Chile de 73 e os tempos em que os caceteiros do Melo, hoje com estátua, queimavam e destruíam no Portugal renovado quanto lhes cheirasse a progresso.
O triste alinhamento de uma Europa em agonia vem de saber que, morto o patrão, em agonia também, findará de vez este milenário reino da exploração.

segunda-feira, 21 de abril de 2014


Já lá vão alguns anos quando o socialista Soares se meteu ao bom caminho de desmantelar a siderurgia nacional e a indústria da outra banda.
Fiz questão, na altura, em estar presente numa concentração de revolta contra o atentado económico, eu, que, directamente, nada tinha a ver com o sector, em solidariedade e apoio aos que iam e estavam a ficar no desemprego.

Estranhando, nesse dia, a minguada concorrência, foi-me dito por alguém, da zona e do ofício, que se contariam pelos dedos as vítimas da decisão, já que preferiam esconder-se, com a vergonha que sentiam.
Cínico que sou agora, inclino-me a supor uma verdadeira razão que me espanta e espantará.

O mais desgraçado ser, pelintra e espezinhado, não tem a coragem de assumir uma atitude de dignidade e prefere não dar nas vistas, identificando-se, por vezes, com aquele que o espolia.
Como perceber de outro modo que, após os quarenta anos de desgovernação e traição, PS e PSD continuem a ser os partidos mais votados?

Dêem-me uma explicação plausível para as magras manifestações, num país onde se sabe, pelos números oficiais e, portanto, mentirosos, que desempregados e precários são mais de metade da população activa, 45,9% estava em situação de subemprego no ano de 2013, que 37,7% são jovens numa procura em vão, que a emigração em 2012 se cifrou em 120.000, que o salário mínimo (400.000 trabalhadores em 2012) era, como ainda é, de 485,00, a sujeitar aos descontos, sendo em Espanha 645,00, na Grécia 586,00 e em França 1.226,00, que dos reformados da Segurança Social 1 milhão e 200.000 recebem entre 256,75 e 419,21, situando-se abaixo do limiar de pobreza, etc, etc.
Não deve ser um acaso que abundam e prosperam tantas revistas cor-de-rosa, pródigas em insuflar no mentecapto um cheirinho a intimidade com figuras aureoladas de parasitas tutti fruti.

Só assim se entende que um basbaque idiota queira ir fazer de público e aplaudir uma estrela, um chefe, um prícipe, um “carismático” qualquer que se passeia em certos meios.
Por isso, dizem, os senhores intelectuais não se metem nessas coisas, gozando do alto a agitação do pé-descalço e o dinheirinho que, de uma forma ou de outra, lhe vem parar às mãos.

É a fragilidade humana, mental, com farroncas ou não, que leva o explorado de sempre a não hesitar em reduzir a comida ou a prostituir-se por um bilhete de futebol ou entrada num espectáculo do epiléptico guinchante.
Junto aos outros, ele deixou de ser nada e tem a ilusão da força ao mugir em manada.

 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 20 de abril de 2014


Afinal, alguma coisa há que nos irmana, a nós e aos espanhóis.
Não há muito, ainda, grassava, na Península, uma terrível crise, que enfrentámos, corajosamente, com desemprego, miséria, emigração, perda de direitos, desmantelamento social, tudo para salvar banqueiros, a quem a especulação saíra pela culatra.

Subitamente, o que era deixou de ser e Colombos e Gamas dizem avistar ao longe novas árvores das patacas, a exportação.
É possivel que o desanuviamento dos céus se deva à frente quente da proximidade das eleições para o parlamento europeu, que não pinta nada, ou seja, é um verbo de encher, mas, ao menos, paga bem, com o dinheiro nosso, e serve de decoração ao triunfo dos exploradores.

Creio, apesar disso, num começo de melhoria, pois emagrecemos tanto que, se engolirmos o caroço de uma cereja, a mulher passará por grávida e o homem ficará obeso.
Seja ou não seja assim, a concordância ibérica é deveras surpreendente, porquanto entre nós e eles, há diferenças insanáveis, já que, a título de exemplo, nunca nos passaria pela cabeça chamar “fantasmas” aos governantes, querendo significar que são pedantes.

Os nossos fantasmas sempre têm sido etéreos e os pedantes que nos governam são pesados e bem pesados, na acepção deles, espanhóis, que é de “chatos”, “chatérrimos”.
Aceito, contudo, aproveitando a actual fraternidade da situação actual, que a designem, doravante, por “trampa”, já que por lá é “trapaça” e por cá significa  “merda”.

 

Se há originalidade em Portugal, não a procurem nas artes ou nas ciências, porque, mesmo com as fronteiras tombadas, espichamo-nos quanto possível a ver se avistamos, fora, o modelo que seguir.
É na política que nos cabe um lugar de honra, porque, além de um povo que vota sem saber o quê nem porquê, criámos um modo de governação a que se poderia chamar cruzada.

Não só porque os cruzados descobriram uma fé espúria na classe trabalhadora, mas ainda pelo facto de a ministra das Finanças se preocupar com a Saúde e o ministro da Saúde se ocupar das Finanças.
Tudo se insere, creio, na polivalência do empreendedorismo que nos obséquia com gente que salta, ágil, das cervejeiras para economias, das advocacias para a venda dos bens públicos, das feiras de aldeia para os tablados do mundo.

sábado, 19 de abril de 2014


Os da selva africana, não sei, nunca me meti com eles. Os da selva em que vivemos, bípedes ou quadrúpedes, costumam ser pachorrentos, inofensivos, divertidos, mesmo, sobretudo, por paradoxal que seja, os mais trombudos.
Eles tocam sinetas, passeiam crianças, bailam em cima de plintos, dobram-se em vénias de corte, são muito afeiçoados e não consta que asneiem.

Este, porém, com olhos de carneiro mal morto, de certo por tal hibridez, dá-lhe para dizer asneiras e tem ouvidos que o escutam.
Ou, melhor, tolices e meias-verdades, suportáveis em quem não conta, criminosas em quem se arroga do título de comentador.

Aqui há dias, falando da Segurança Social, soltou, num arroto rolado, que é insustentável a situação actual, bastando observar os números.
A criatura até tem razão, mas estranho é que não queira saber e, muito menos, explicar, a razão desses números.

Ter-se-á esquecido que o desemprego monstruoso implica mais despesa e poucos descontos? Que a venda das empresas públicas reflecte-se na míngua de receitas? Que a emigração em massa desfalca as finanças do país de origem e dinamiza a economia do país de acolhimento? Que os bancos, além das injecções periódicas de dinheiro nosso, pagam uma ridicularia sobre os lucros confessados, não os reais? Que os luxos, por serem luxos, não vão além dos impostos que agravam o custo de bens essenciais? Que as vinte sociedades mais poderosas do país, alegando o que a lei lhes facultou, têm sedes no estrangeiro, muitas vezes em paraísos fiscais?
Não há dinheiro, nem pode haver, porque é entisicando o Estado que ele se rende sem condições ao poder económico e o cidadão deixa de ter direitos para se tornar, apenas, um servo pagante.

quinta-feira, 17 de abril de 2014


Custa a crer, mas a verdade é a verdade e as fontes donde a notícia emana são fidedignas.
A mais recente:

O automóvel governamental que nos saiu na rifa tem nada mais nada menos que cento e trinta e seis cavalos.
E eu que supunha que não fossem tantos!

Erro meu e má fortuna, confesso, que nunca me inteirei em pormenor das numerosas minúcias da nossa máquina estatal.
Menos recente, mas recente e que muito me agradou, é ver humanizada a senhora das Finanças, que, boa dona de casa, vai-se osmoseando cada vez mais à minha muito querida avó paterna, que, volta e não volta, repetia:

- O que é de mais não presta!
Parcimónia esta, dita e praticada, que lhe valeu prolongar a vida, espichando aos cem, parcimónia esta, dita e não praticada, que aguentará a ministra no mando até aos cem, pois o povo agradece a quem lhe trata da saúde.

E é sabido que nós, portugueses, somos uns lambões, na comida, nos gastos, nos ordenados.
Bom será que haja quem governe e taxe e sobretaxe os produtos mais nocivos, como o sal e o açúcar, a que se seguirão os feijões e as batatas, causas provadas dos gases intestinais e obesidade.

Deo gratias, perdão, Luiso gratias!

quarta-feira, 16 de abril de 2014


Ele ouviu e entendeu as sábias palavras do ministro japonês das Finanças, que aconselhou os velhos a fazer o haraquiri para endireitar as contas e a economia do país.
O patriotismo, vê-se, pode saltar da lapela e entrar ao serviço da nação, que é como quem diz, ao serviço da banca.

Aqui, à falta do saudável hábito de abrir a barriga quando as coisas correm mal, enveredou-se pela via da morte lenta, sugando, pouco a pouco, o que as pessoas pouparam para descanso na velhice.
O óbice é ser um método a longo prazo e, por isso, acrescentaram-se pequenas dificuldades, afastando os hospitais para dezenas de quilómetros, reduzindo pessoal e horário dos poucos centros de saúde que ainda subsistem, criando listas de espera de muitos meses e anos, impedindo os bombeiros de transportar doentes, acabando com farmácias nas povoações mais pequenas, minguando ou pondo fim à comparticipação no preço dos medicamentos.

E os malditos não morrem?
Cortem-se, então, reformas e pensões, criem-se taxas e sobretaxas, meta-se na cabeça das viúvas que é hora de seguir o exemplo dos seus maridos queridos.

Caso o remédio não surta efeito, sugiro promover o boca torta, que é homem de imaginação e acção.

segunda-feira, 14 de abril de 2014


Segundo o pequeno oráculo, Mini-Mendes assim se chama, vai surgir, nos céus estrelados, uma lua mais achatada, que o Portas, para lá das portas nacionais, deve ter visto um tronozinho onde esfregar o rabo.
Uma aposta feminina pode arregimentar mais fêmeas, desde que não lhes peçam para eliminar os sutiãs.

Como o grupo a que pertence costuma adiantar-se na captação dos mentecaptos, bom seria que o seu comparsa, em lides desgovernamentais, pensasse igualmente em renovar a frota, que o negreiro parece ter chegado ao fim.
Não pretendendo imiscuir-me em assuntos tão politicamente delicados, faço a sugestão de que os corajosos militantes apostem numa senhora que muito prezo, porque presa nos remorsos de vigarices antigas, anda sempre de corda ao pescoço.

No coadjuvante PS é que não vejo qualquer ponta onde se pegue, pois o que por lá se revela, em termos de género, é uma quantidade de machos, alguns dúbios, outros solteiros.
Duvidarão dos seus dotes ou esperam, como é natural entre oportunistas, amigar-se com as descendentes da nobreza minhota?

Seja por estrabismo crítico, seja por miopia mental, nenhum dos senhores que por aqui peroram deu pela colossal revolução que está acontecendo na América Latina.
É que, quinhentos anos depois, há quem queira devolver ao índio a sua dignidade, espezinhada desde a chegada das naus europeias.

Finalmente, está vendo-se, na pessoa de Evo Morales, toda uma afirmação dos povos indígenas, que exigem ser olhados como iguais nossos e vão mais longe do que nós já fomos, enquanto que, aqui, se promove miséria, obscurantismo, ferocidade animal.
Bom seria que os Estados Unidos da América do Norte os deixassem em paz, não lhes sabotassem o esforço e a coragem que têm posto no seu enfrentamento ao capitalismo predador.

O que já antes aconteceu não me tranquiliza nada e espanto-me que se continuem a aguentar estes anos todos.
Embora por estas nossas bandas nada conste, povo e governantes, de lá, devem estar a agir de forma bastante inteligente e honesta, coisa que, nestes nossos países altamente civilizados, subsiste somente nos livros de paleontologia política.

sábado, 12 de abril de 2014


Estamos no bom caminho, nós e a Europa toda.
Di-lo Burroso, Draghi, Rehn, a matilha inteira que surgiu do nada para vergar os povos à escravidão da dívida que eles mesmos promoveram, acorrentando-nos por séculos, se não vencermos o coma em que estamos a vegetar.

Prevenindo-se, de momento, que a miséria é gritante, aliviou os juros, auto-santificou-se até e querem fazer-nos crer que a crise já passou, embora seja de persistir ainda e sempre na austeridade.
Episódio recente da estratégia da mentira, o enormíssimo sucesso que a Grécia protagoniza num regresso aos mercados, cuja voracidade insaciável é oito vezes superior ao que havia para oferecer: títulos de dívida no valor de 3 mil milões, creio.

Por cá, a treta é outra, com saída suja ou sujíssima, a que chamam limpa, e se somos lixo ou não, no coração dos agiotas.
Continuaremos, pois, na abulia estúpida do animal capado, com a perspectiva optimista de mais vinte anos de afocinhamento e o espectáculo confrangedor de fedelhos e fedelhas açodados no cumprimento de ordens.

Porque colaboracionismo é virtude e os intransigentes defensores da soberania estão apertando as nádegas, no temor de pior.
25 de Abril sempre!

Ih! Ih! Ih! – escarneceria Gil Vicente, pela boca de um parvo como eu.

quinta-feira, 10 de abril de 2014


Não há perigo que o processem por violação dos direitos de autor, porquanto Tchaikowsky morreu há mais de setenta anos.
De qualquer modo, é o plágio uma prática censurável e o senhor Lima revela mau gosto, ao querer-nos impingir o seu “Lago dos Cisnes”, depois de todos nós o termos visto várias dezenas de vezes.

Além disso, parece-me que o distinto cervejeiro incorre num pleonasmo por falar em cisne elegante, pois, que eu saiba, os cisnes nunca foram marrecos ou pernetas.
E permita-me recordar-lhe, que, até ao momento em que escrevo, consta-me haver apenas, na melhor das hipóteses, três ou quatro palmípedes, a saber Irlanda, Espanha, Portugal e Grécia, já que não encontro referência aos muitos outros países que, membros da generosa União Europeia, se transformaram em patos depenados.

Admito, por hipótese, que o senhor Lima, pseudo-economista, seja mais genial que o falecido Tchaikowsky, mas estou em crer que um espectáculo restringido a tão-somente estes quatro anatídeos não faz grande mérito à nossa Europa de ricos.
Aliás, é um pouco de exagero passarmos instantaneamente de pig a cisne.

domingo, 6 de abril de 2014


Democracia não é tachismo nem forma rápida de fazer fortuna.
Democracia não é mentira nem forma arteira de burlar quem vota.

Democracia não é corrupção nem forma fácil de se prostituir a quem paga.
Sendo-se, todavia, desonesto, por herança, vocação ou aprendizado, há que aproveitar os tempos de hoje, que a maré está de feição.

O receituário é clássico, desde que o capital inventou as eleições:
1 - Confraterniza-se, democraticamente, com bêbados, delinquentes, tarados ou loucos, porque são eles que nos dão os votos.

Por um voto se ganha, por um voto se perde (Seguro).
2 - Gabam-se recalcamentos, traições, que a cobardia é virtude.

Somos um povo inteligente, civilizado, com uma história de invejar (R. Sousa).
3 - Prometem-se mundos, mas, sobretudo, fundos, acirrando gulas, ganâncias, frustrações caladas.

Estamos numa viragem económica, a recessão chegou ao fim (P. Lima).
4 -  Amande-se, pomposo, em retorcimentos equívocos, que a patacoada untuosa entra bem na multidão.

As exportações são o porta-aviões (não os submarinos) da economia (Portas).
5 – Grite-se bem alto, com razão ou sem ela, faça do escarcéu mordaça para quem levantar questões.

Direita assumida ou que para lá caminha, explicadamente (T. Caeiro).
Eleito e empossado, dê a cambalhota habitual, já que está legitimado em quatro anos de desaforo.

E convença-se, se não está, que o compadre do lado é comparsa, não é rival e o bipartidarismo alternante não o deixará na rua e, muito menos, esmolando.
O “bom povo” assim garante.

Esqueça decisões irrevogáveis ou diferenças insanáveis que as diferenças são nenhumas e o que importa é continuar a paródia.
Faça por refrear os cachorros, pois, atrás de tempos, tempos vêm e a vez deles vai chegar.

Se guindado ou guindados, disparam num revanchismo negreiro, procure-se alguém cordato, que nos mantenha abúlicos, na letargia de há anos.
Nada de exumações de um Salazar antigo, que, a cair da tripeça, dizia, ainda, na anedota a seu respeito:

- Matei-os a todos, mas salvei Portugal.

quinta-feira, 3 de abril de 2014


Confesso estar vivendo acima das possibilidades.
Sou contínuo de segunda na portaria do Ministério, onde vejo chegar o senhor Ministro e Secretários que engraçaram comigo, sabe-se lá porquê, pois, depois dos bons-dias, não deixam de meter-se com o meu nariz, que, dizem eles, herdei de um avô judeu.

O vencimento é pouco, descontos feitos, sobretudo agora, em que são muitas as alcavalas, taxas, sobretaxas e sobre-sobretaxas.
Mantinha-me, ainda há pouco, na casinha de meus pais, felizmente em vida, mais os pais dos meus pais, os meus dois irmãos e um rafeiro adoptado.

Apertadinhos, é certo, mas a casa boa, com quarto de banho e tudo.
Difícil, só à noite, já que para dormir, é necessário ajeitarmo-nos um pouco, uns para baixo outros para cima. O espaço vital é, de facto, exíguo.

Tenho leituras, o décimo segundo ano, ou nunca seria digno funcionário do Estado.
Um dia, estando a ver os barquinhos no lago do Campo Grande, tão desajeitado fui ao endireitar-me de repente que dei um safanão valente na pequena que espreitava a diversão por detrás do meu ombro.

Desfiz-me em desculpas, sem dúvida, e, preso dos seus olhos pestanudos, fui aguentando a conversa, a ponto de acompanhá-la quando regressou a casa.
Combinámos outros encontros, aproveitando os domingos livres que ambos tínhamos.

E a confiança aumentou, mas, ao cabo de algum tempo, aumentou também a barriga da já minha namorada.
Decidimos, então, juntar trapinhos.

Andámos os dois à procura de sítio, mas os preços eram tão incomportáveis que nem alugar um quartinho podíamos.
O tempo começava a escassear, que, dentro em pouco, os patrões dela notariam que um novo cidadão ia chegar.

Fiz a via-sacra das vitrinas das imobiliárias, mais os anúncios dos jornais e, a uma sugestão de amigo, sabedor da vida, abordei o meu chefe, e pedi-lhe que certificasse a minha idoneidade física, moral, profissional e financeira.
Quis a sorte tê-lo apanhado de feição e, depois, de papel em punho, timbrado, assinado, chancelado, irrompi na Caixa Geral de Depósitos.

Não faltaram complicações e delongas, mas, ao cabo de algum tempo, foi-me concedido empréstimo que me abriu a porta de um cochicho em Camarate, onde vivemos, eu e a cara-metade e um catraio, que me dá cabo da cabeça.
Tornei-me, assim, proprietário, ou, como afirma o governo, meti-me em cavalarias altas, tão altas que andarei a pagar, a vida inteira, um T1, que acabará por rondar o preço de uma casa a sério, se eu tivesse, de início, algum dinheiro amealhado.

Se o dinheiro atrai dinheiro, a pobreza atrai pobreza e exploração.
Mas sou proprietário, com IMI pago e tudo.

Se sente asco pelo governo que o desgoverna e cora de vergonha, lá fora, quando tem de dizer o país onde nasceu, consulte um dicionário vulgar e procure a palavra “feérico”.
Saberá que o termo nos chegou de França, derivando de “fée”, que, na actual algaravia nossa, significa “fada”.

Perguntará de certo, que tem o senhor a ver com tudo isto, cidadão português, adulto e não direi emancipado por viver sob tutela estrangeira, policiado por empregadotes de segunda, honrosa situação que legará a seus filhos, se eles, seguindo-lhe as pisadas, não rejeitarem a albarda.
Eu diria que tem tudo, pois estão a reviver-lhe a infância onde, como em todas as infâncias, houve uma velhota querida que o encantou com histórias de príncipes e príncipas ou princeses e princesas, porquanto a gramática jamais se atreveria a pôr entraves à sua prodigiosa criação fantasiosa.

Com ela, vinham seres malfazejos como os de hoje, mas prontamente detidos, repelidos pelo pequeno aceno de uma varinha mágica de seres alados que por nós velavam, as fadas.
Passados estes anos, a diferença está em que, no seu retorno à meninice, são as bruxas más que mais o iludem, com fantasias, desta vez, sinistras.

Mas a intenção, bem sabe, é de não o expor à perigosa conclusão de que os tempos são e serão de escravidão.
Não se ofenda, pois, que o tratem assim, por menino ingénuo ou atrasado mental.

Seja agradecido

Inércia ou ausência de princípios, já que ninguém distingue qual o maior ladrão, se o que fica à porta ou o que rouba a vinha.
Contudo, escuto um comentador, que é dado como jornalista e poeta, e, tirando as suas opções de classe, inscritas no ADN, o homem parece-me relativamente honesto, esforçando-se por ser objectivo.

À sua maneira, claro.
Pois aqui há tempos, falando sobre a mentira, que é vigarice, creio, dos que conseguem eleger-se à custa de promessas miríficas, e, uma vez no poleiro, dão uma cambalhota tal que o que era já não é e o que foi dito não irá avante,  porque a realidade o exige.

O que não é prática deste governo, apenas, pois vem acontecendo continuamente, sejam quais forem os partidos do chamado arco de governação ou seus horizontes geográficos.
Demonstra-o exemplo recente do socialista Hollande, destro em perdigotos e baboseiras, que, já presidente, dança com a ocupante alemã e propicia a ascensão de uma direita mais façanhuda que a sua, como, aliás, tem sido apanágio, através dos tempos, do reaccionarismo encapotado que insiste, para melhor burlar os incautos, em afirmar-se socialista.

Que voltas Jaurès não dará na tumba!