Já lá vão alguns anos quando
o socialista Soares se meteu ao bom caminho de desmantelar a siderurgia
nacional e a indústria da outra banda.
Fiz questão, na altura, em
estar presente numa concentração de revolta contra o atentado económico, eu,
que, directamente, nada tinha a ver com o sector, em solidariedade e apoio aos
que iam e estavam a ficar no desemprego.
Estranhando, nesse dia, a
minguada concorrência, foi-me dito por alguém, da zona e do ofício, que se
contariam pelos dedos as vítimas da decisão, já que preferiam esconder-se, com
a vergonha que sentiam.
Cínico que sou agora,
inclino-me a supor uma verdadeira razão que me espanta e espantará.
O mais desgraçado ser,
pelintra e espezinhado, não tem a coragem de assumir uma atitude de dignidade e
prefere não dar nas vistas, identificando-se, por vezes, com aquele que o
espolia.
Como perceber de outro modo
que, após os quarenta anos de desgovernação e traição, PS e PSD continuem a ser
os partidos mais votados?
Dêem-me uma explicação
plausível para as magras manifestações, num país onde se sabe, pelos números
oficiais e, portanto, mentirosos, que desempregados e precários são mais de
metade da população activa, 45,9% estava em situação de subemprego no ano de
2013, que 37,7% são jovens numa procura em vão, que a emigração em 2012 se
cifrou em 120.000, que o salário mínimo (400.000 trabalhadores em 2012) era,
como ainda é, de 485,00, a sujeitar aos descontos, sendo em Espanha 645,00, na
Grécia 586,00 e em França 1.226,00, que dos reformados da Segurança Social 1
milhão e 200.000 recebem entre 256,75 e 419,21, situando-se abaixo do limiar de
pobreza, etc, etc.
Não deve ser um acaso que
abundam e prosperam tantas revistas cor-de-rosa, pródigas em insuflar no
mentecapto um cheirinho a intimidade com figuras aureoladas de parasitas tutti
fruti.
Só assim se entende que um
basbaque idiota queira ir fazer de público e aplaudir uma estrela, um chefe, um
prícipe, um “carismático” qualquer que se passeia em certos meios.
Por isso, dizem, os senhores
intelectuais não se metem nessas coisas, gozando do alto a agitação do
pé-descalço e o dinheirinho que, de uma forma ou de outra, lhe vem parar às
mãos.
É a fragilidade humana,
mental, com farroncas ou não, que leva o explorado de sempre a não hesitar em
reduzir a comida ou a prostituir-se por um bilhete de futebol ou entrada num
espectáculo do epiléptico guinchante.
Junto aos outros, ele deixou
de ser nada e tem a ilusão da força ao mugir em manada.