É simples constatação que o esquerdismo, uma vez terminada uma
missão provocatória de ataque à esquerda consequente e, com sua actuação
extremista, justificar a força da reacção bruta, que dizem combater, vão-se
acomodando em diferentes quadrantes, muito frequentemente de direita assumida e
nunca na zona onde a revolução se defende não por voluntarismos mas porque a
sociedade exige, já que o que existe não responde e é entrave.
Como a história lhes registou as contorções ou piruetas e o
descrédito é repulsa por traidores, quando algo novo parece impor-se, logo os
conformismos assinalam perigo, confundindo com esquerdismos.
Assim ocorre com o “Podemos” em Espanha, primeiramente
ignorado, depois escarnecido e, agora, combatido, vilipendiado, exorcizado,
numa intensidade crescente, à medida que ganha força.
E não há pantufeiro nacional que, temendo pelo sossego e cómoda
paralisia mental, a entreter-se com o osso que lhe deram para o distrair, não se
mostre consternado, porque quanto for diferente, inédito, fora de estreitíssimos
padrões, assume nas boas almas proporções apocalípticas.
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Dois parecem ser os momentos de reflexão a respeito do que se
disse.
1 – Porquê a cambalhota do pseudo-revolucionário?
2 – Com que base se confunde “Podemos” e extrema-esquerda?
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No primeiro caso, atitudes assumidas vêm da necessidade de
dar nas vistas, numa afirmação do ego, como é lei entre adolescentes etários ou
mentais.
Esta é a razão por que Lenine definiu o facto de doença
infantil.
No fundo, jovem ou adulto, move-o um complexo de
inferioridade e a ânsia de não ser só um número entre números.
De uma maneira ou outra, procuram encontrar um rasgo que os
erga do anonimato e negue, na aparência, o complexo de inferioridade que os
martiriza.
E qualquer coisa servirá: inteligência, raça, sangue,
dinheiro, estatuto, civilização, seja o que for, que os torne superiores.
Assim se encurta o espaço que medeia entre os dois extremos,
que acabarão por tocar-se.
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Para o segundo ponto, a resposta possível é o absurdo, dado
que o movimento procura exactamente a liberdade nos outros, a grandeza
individual numa continuidade entre humanos, atacando os super-homens, apelando à
força de ânimo, despertando o pensamento, a vida no seu devir.
Esbatem-se os chefes e constroem-se cidadãos, não se
pretendem rebanhos mas gente que se entreajuda, luta-se por uma criação
constante, recusa-se delegar, entorpecer, estupidificar.
Distância maior em relação aos extremismos é impossível existir.