sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015


De portas adentro ou portas afora, a pantominice impera.
“Eu sempre disse”, como lema dos dias, está a ter tanta voga, como um mea culpa papal.
Houvesse sobrevivido o Hitler à sua antecipação da Merkel e encontraria um Soares ou outro democrata dos tempos que, às pancadinhas nas costas, juntava:
-Não vale a pena mentir. Em nome da reconciliação nacional, o que lá vai lá vai. Não queiras estragar-nos a festa que nós já entendemos a ideia e até a melhorámos há muito. Os perigos são outros agora, que andam uns alucinados tentando fazer os povos pensar. Uma escumalha sem nome de Monederos, Iglesias, Navarros e até Losurdos, Chesnais, Eagleton, Harvey, Arriola, Vasapollo e Lapavitsas, todos tresloucados perigosos.
Deus saberá o porquê de só a nós nos prendar com a inteligência das coisas.
Mas, os desígnios de Deus são, desde sempre, insondáveis.
Basta-nos o sermos eleitos e dados de exemplo ao mundo.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015


Goebbels, em nova revelação messiânica, vem informar os mortais dos duzentos e tantos contratos com umas instituições esmoleres.
Ou, em português mais corrente, duzentos e tantos carreios dos cofres da Fazenda Pública para Jonets e quejandos, que, sendo as costureiras mal pagas, preferem a caridade de ofício, que abre as portas o céu.
Tendo-se cidadania como noção caduca, há esta pressa açodada em dar à sociedade egoísta, capaz de recorrer a tudo, se quer sobreviver ao desastre.
Seja aguerrido, competitivo e feroz e quem, por contrário, se recusa morder, aguarde a piedade católica das damas desocupadas no tédio.
A esta evidência, repete-se que a Europa se encontra em fase de capitalismo altruísta: toma lá o dinheiro que é para concorreres comigo.
É  história da cenoura e do burro, a ter ainda quem ouça.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015


É lindo, lindo de ver-se um outro senhor da Galiza afunilar o focinho, na raiva de empeçonhar quem sonha a Espanha sem Torquemadas.
 Que ela bem merece o respeito que a Contra-Reforma travou e Franco decapitou.
Parece, agora, porém, que perde a reacção com Podemos, ainda que a socorra a Europa, onde todos os povos, por fim, estão a acordar da modorra, frente à escravidão dos tempos.
E, berre ou não berre, o antigamente agoniza, são os amanhãs que cantam.
Vê-se abrir a vida à vida, não do animal que o instinto embrutece, mas do racional que possa chamar-se de humano.

domingo, 1 de fevereiro de 2015


Curioso que quantos se horrorizaram com Paris, entrando açodados na grande encenação de “je suis Charlie”, pela liberdade de expressão, não se precipitem à mesma em defesa do Syriza, cuja prioridade, parece, é a liberdade de um povo que, espezinhado e humilhado, afirma uma dignidade, mais ofendida ainda, não por um só acto de barbárie, mas vários, por vários anos.
Muito pelo contrário, ou vociferam, de imediato, que nós não somos os gregos, sem esconder servilismo, como anseiam pelo fracasso de uma altivez esquecida, antegozando uma Grécia que se suma em derrota e sofra, no pelourinho, a fúria dos agiotas, o escárnio da populaça.
São 12 as vítimas de um dia e é escândalo, revolta, guerra, se o mando assim entender.
O mando que, dia após dia, torna esta Europa uma máfia que rouba, extorsiona, mata, não doze, mas muitos milhões.
Tinhas razão, Einstein, é a estupidez infinita.

Clama o negreiro a sua palavra de ordem – “empobrecer, empobrecer”, até a pele não conter nem ossos nem vida e o esqueleto acabe por se desconjuntar por si.
Produção e comércio, educação e saúde, justiça e prestações de apoio foram, não são, ao ditame do louco que nos imola o presente e compromete o futuro, se o premiarem lá fora, um Deutsche Bank, talvez.
Crescem, contudo, as fortunas antigas e juntam-se a elas as fortunas recentes, em cambalachos de amigos, privatizações de urgência, comissões e luvas, evasões aos impostos, uma corrupção imparável.
A correria ao tachismo é açodada, obscena, não faltando vivaços que, numa alergia ao trabalho, enxameiam partidos, aplaudindo quem manda.
Mas a unanimidade perfeita onde se mercadeja tal pândega faz-me prever que um tsunami virá a varrer deste mundo o lixo de há anos.
São indícios reais, quando se escuta o pulsar do novo que está para nascer.