terça-feira, 28 de julho de 2015

Falta-me só o ser gordo para uma dignidade de paxá.
É certo que se exige um currículo, quando a nascença não prenda e, trabalho primeiro, ser eunuco prestável no harém do califa.
A castração requerível foi tentada na escola, criança, adulto, com resultado menor, aceito.
Donde a demora em que estou, ainda que simule ser dócil, tapete, cão à procura de um dono.
Sabemos que são muitos na bicha, mas julgo ter por mim, além da indignidade e descaro, certa dose de esperteza, coisa presentemente bem rara.
Mas está aqui, sem dúvida, toda a razão do meu erro, porque útil, útil, de facto, é só o burro que fala pela boca do que lhe achega a fava.
E, se for certo o que digo, jamais virarei colunista e, muito menos, director.

terça-feira, 21 de julho de 2015

Não aconselho ninguém que, para parar o comboio, se ponha no meio da linha.
Nunca lhe direi, porém, que o maquinista ao serviço o sodomize a seu gosto.
Sem serem incompatíveis, inteligência e moral esperam por novo apelo, agora vindo da Europa.
Antes de nós, outros houve, vítimas da bestialidade do ganho, em formas tão extremadas que foram requisitados estádios, prisões e o fundo dos oceanos.
Os mesmos que o FMI “ajudava”, escoltados por Pinochets e quejandos.
Os mesmos que negam ouvidos às falsas sereias da banca, esgalgadas ou não.
Os mesmos que são infamados pela nossa elite analista, servilista, reptilista, a clamar ao incauto que há que fugir porque empestam.

domingo, 19 de julho de 2015

Fala-se para aí de estratégias sagazes, como, por exemplo, espezinhar o Toninho, para que os sãos compreendam o que a Europa pretende: reduzir os direitos à sacrossanta linguagem dos rituais anuais, pagar com uma côdea de pão o trabalho de escravo, sustentar nos países um governo-polícia para o serviço mais sujo e empochar todo o lucro da competitividade com os demais e sujeição dos seus servos.
Será a subtileza espantosa, mas nunca admiti reinação com quem mais tolhido que eu se deixa gozar pelos outros.
Talvez a decência e princípios não sejam moeda corrente, nem tenham valor no mercado, contudo a Bolsa repugna-me e, tendo este aleijão de berço, não vejo o que se possa fazer.

sábado, 18 de julho de 2015

Vai a minha bênção para eles, que tudo fizeram para que nós nos revoltemos.
Se a estupidez foi tanta, ou a cobardia imensa, que continuaremos à espera, para ver, segundo os comentadores e os sabedores analistas, a culpa já não é deles, só nossa.
Que a imbecilização vem de longe, escola, televisão, jornais, artes e várias formas de expressão, valoração, remuneração, aceitação, numa aposta conjunta de quanto pior melhor, todos sabemos.
Apesar de tudo, caramba, há meia dúzia que pensa e, se alguns o fizerem, outros mais o fariam.
Bastaria parar, hesitar, perguntar:
- O que me impingem está certo? É um modismo inocente?
Não, filosofia, moral, pedagogia, ciência são nada, quando não nos trazem dinheiro.
Pois adoptemos o nada, muito mais pingue.
A pintura é com os pés?
Pintemos, então, com os pés.
Música e dança e canto são guincho, ruído, contorção de epiléptico?
Também quero ser artista, já que é coisa ao meu alcance.
Temos, assim, um mundo, onde há infestação de artistas, sábios, atletas e demais parasitas, porque o trabalho não rende.
Alegremente, em doce satisfação idiota, a sociedade gangrena, apodrece e morrerá.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Nada me falta ouvir ou ver e gramar.
É o Iglésias, agora, supostamente a trilhar por outras vias morais e políticas, dizendo que a Grécia se ajoelhou, porque a opção era única.
Afirmara pouco antes que a realidade é diferente, quer em Espanha quer algures.
Com certeza que assim é. Não deixo, porém, de pensar que, pressionado por Draghi, o do Goldman Sachs, à frente do Banco Europeu, teria também de ceder à sujeição alemã.
Se este é o seu projecto futuro, mais lhe vale quedar-se pelas charlas mediáticas do nosso mesmo de sempre.
Cá na parvónia onde estou firma-se desde há muito a ideia de que alternativa não há, o que Varoufakis desmente e, com ele, Lapavitsas. Ter de amputar um dos braços, ainda poderei entender, dar-me à sub-humanidade de Hitler, nunca.
Ou “Arbeit macht frei”?

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Não me parece demérito reconhecer-se enganado e vir dizê-lo sem mais revela inteireza e moral.
E, quando o logro é traição, há que chamá-lo pelo nome, porque traição é traição.
Tsipras traiu e traiu-nos, nenhuma alegação lhe vale.
Termos confiado em alguém que sempre pensámos ser sério nunca foi crime e demonstra que queremos um mundo mais nosso onde promete quem cumpre.
A não esquecer, o alerta do KKE mal-amado, a demarcação do Podemos, ou, pelo menos, o tacto de Ângelo Alves do “Avante”, que, pondo fim a uma crónica da qualidade de sempre, faz votos que os syrisanos da Grécia estivessem à altura do povo.
Não estão. Muito pelo contrário.
Aprontam-se a governar com o Pasok e Nova Democracia, também, mandam a polícia atacar.

domingo, 5 de julho de 2015

Ganhe o sim ou o não, vê-se na Grécia o que a Europa esqueceu: dignidade.
Meia população, ou menos, recusa imposições do ocupante, nega bajular agiotas, que prostituídos incensam.
Felizes só nós, macaco ou macaca, que volteando na corda, esperamos amendoim do dono.
Nós, em profusão de facécias, porque para os gregos nem cascas, nem com eles há futuro.
Aos que se confessam crentes é de lembrar que foi Cristo um dos da dignidade entre os homens.
Os que não acreditam, além da pança e do tacho, olhem como o mundo desperta, mesmo por sítios da Europa onde a traição é moral.
É que se começa a ver que o que sobra é chantagem e medo, mantenham-se ou não as eleições.
Rende-te ou fuzilo-te, foram os nazis que o disseram, enforcados, depois, ou numa humilhação da prisão.
Mesmo vilipendiada e submissa, a democracia persiste, com ressurgimentos na história, quando se pensava estar morta.
Entre variadas tolices ditas com seriedade está a de que não há nenhum crime perfeito, como se no mundo só houvesse perfeição.
Sem citar nomes, que vão sendo mais que muitos, um dos que avulta aparece num caso em que, ao roubar dez milhões, vem o tribunal e diz:
- Pois, meu amigo, há que pagar um milhão... de multa.
Outro tanto acontece com uns arrivistas do lucro que, ganhando as eleições, estão mentindo dia a dia, destroçam a economia, vendem tudo ao desbarato, roubam, desgraçam, matam, para que alguém ponderado lhes clame do fundo do poço:
- Tu perderás as eleições.
O que a criatura agradece, pois tem um prémio cá fora, da parte de quem serviu..
Compensação, se não há, é na burrice em que estamos.