domingo, 30 de abril de 2017



Não nos perderemos nos números a procurar milésimas
o computador fá-lo-á
abrindo-nos às aventuras do querer
Não nos quebraremos no esforço
da sobrecarga inumana
Ao pulsar de um botão
o mundo erguer-se-á
e nós viajaremos então
ao lado oculto do espaço
iremos fraternizar com os astros
Não nos interessarão as eternidades cansadas
e reinventaremos decerto a fruição de viver
sem acusações de egoísmo miséria injustiça ou dor
derrubados de vez os impedimentos ao sonho

O perigo
é querer-se que eu veja um inimigo em ti
punhal preparado
caninos de predação
goelas a reclamar mais sangue

Firmes serenos
resistiremos
negar-nos-emos
à calúnia orquestrada
Homens somos homens seremos
e sê-lo
é já indício do novo
um novo a madurar ainda
mas não se fará esperar
surto que a razão exige
ímpeto que a vida requer



quinta-feira, 27 de abril de 2017



Bazar de sobejos
out-let na moda
que a moda é inglês

Um idiota assumido
bronco português
t-shirt de algodão
(oh não)
Yale University
vasculha nos trapos
o trapo que quer
manta de albarda ou cilha
vá-se lá saber

Zumbindo algo ao lado
enxame açodado
de fêmeas
sapatos em pilha
sandálias sabrinas
ténis botins botinas
e um esguicho encurvado
a ferradura chique

Saldo saldado
a propulsar carrinhos
raivosos daninhos
que o animal não puxa
empurra
e o burro ou burra
comprará com desconto
o que não precisa

Num canto sombrio
de luz indecisa
tristíssimos e quedos
vidros a apartá-los da praça
cinco cachorrinhos de raça
sem mãe
em saldo também
Ninguém

terça-feira, 25 de abril de 2017

Tanto me contaram de uma fada-madrinha
que terminei por inventar a minha
De Satanás nunca esperei o bem
miúdo que era
via mais longe
que os adultos de agora
agrilhoados ao chão
alheios à utopia
e a esperar benesses
da Europa dos mafiosos
E sempre agradecidos a quem
nos aferrou para sempre
Alguém está doente
Alguém está doente
Há que saltar a estria
 o disco está já riscado
crescer crescer crescer
e amanhecer na miséria
Eu tu ele o universo
somos finitos
e é dito e redito
que produzimos de mais
O progresso virá
em alargarmos a vida
e distribuí-la por todos
caso contrário
restar-nos-á o sudário
da estupidez dos loucos
A mim mesmo me engano
querendo o momento presente
e preocupa-me o fruto
amaneiro o canteiro
cuido o que posso da horta
confiado no tempo
traidor
em cada flor sangrando
um gatito quebrado
o meu gatito quebrado
num mundo a que já não chego
O ontem exige ser hoje


sábado, 22 de abril de 2017



Afinal
humana sentida
a lágrima de preta verificou-se igual
a qualquer uma vivida

Espantosas estranhas
as artimanhas dos dias
e o silêncio venal
                            de uns                                         
refocilando nas pias
Outros
a farejar servis biscateiros
Há-os expeditos subtis matreiros
num ver-se-te-avias
visando Bruxelas Estrasburgo Paris
a prometer à ida
manhãs de sol de oiro
(manhãs ou manhas
tudo uma questão de acento)
Assento? Ou intento de salvar o coiro?


quinta-feira, 20 de abril de 2017

Rapaz
só vestir bem não conta
continuarás rasteirinho
de corpo e de ideias
reaça com atitudes feias
Um padrinho é que te conseguiu o lugar
mas jornalismo a valer
requer
honradez isenção
estudo investigação
muito trabalho
                      aceito
Contudo
ganha-se consideração respeito
Apenas agradar ao dono
é pouco
que um dono nunca será de fiar
E sempre que te aproximares de um espelho
dirás
        garanto
caramba cresceste
A perfeição só no céu
Eu
terreno
as asas pesar-me-iam decerto
e o mundo boquiaberto
não me revelaria o logro
de quem fez e não tem
porque um outro vem
e diz
é meu
Tenho a nossa lei por mim
Claro
os legisladores já estão pagos
e a legislar certinho
ninguém lhes negará um ninho
entre seus pares
                              administradores
aqui
União Europeia
FMI
       quem sabe
Toda a teia onde cabe
a civilização do roubo

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Confrange
convertido num trapo
um ser
que já foi humano
a mendigar compaixões
e recusando-se a ver
no ricto irrefreável
o asco da esmola
a todos títulos provável
Deus lhe perdoará o dano
escreverá nas memórias
refúgio
de desapossados das glórias
num alto ambicionado
Seabras ou não Seabras
o mundo está cheio de augados

domingo, 16 de abril de 2017



Morto Calígula já lá vão centénios
                                                     (muitos)
e tanto burro que se vê eleito
tardou-nos achar o senador perfeito
semicavalar
Está feito
A demonstrar
sucesso e sucesso num nunca acabar
como
a bomba do filho da mãe
a bomba-mãe
Pois ninguém contesta ao idiota de ontem
sexista racista
ronhoso perigoso
obsceno incapaz
mando ou desmando
muito ao contrário
há aceitação, aplauso
Previsível
talvez
novo nobel da paz
                             veterinário
Incitatus II
O mundo enlouqueceu de vez

sábado, 15 de abril de 2017

Verborreia em caldo meloso
nada ou pouco me diz
prefiro perfis
de escritores militantes
acusando o merdoso
a arroupado em direitos
por sabujar quem manda
Na minha varanda
o sol é nascente.

Dedicatória, permita-me

Recomeçar não basta,
Paz Ferreira,
a quem não conheço.
O homem
                   está por nascer
e mitigada, mesmo,
a predação nunca será decência,
vergonha só em respeito mútuo.

sexta-feira, 14 de abril de 2017

Ponto cimeiro do dinheiro
a exportação da guerra
o general-promotor
assinala no mapa
a nação que lhe escapa
Do painel de patranhas servirá
a que melhor convier
religião terrorismo
armas de destruição maciça (dos outros)
crimes contra a humanidade (nossos só danos laterais)
ausência de democracia (autêntica, a de legalizar o roubar)
Segue-se-lhe a jantarada marcada
onde a cada copo emborcado
vai-se à distribuição de tarefas
e tanto a ti tanto a mim
que a coisa só se faz assim
Entre as patas dos predadores pedrados
cresce e não arrefece
o sangue dos vitimados
Tsunami que não poupará ninguém
Seremos nós o alguém
a exorcizar-nos dos loucos
Interrogação