quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Allende está vivo
ou desgosto socialista
que assim parece
quem esquece
estádios de concentração
milhares de desaparecidos
milhares de torturados
Jara a esvair-se da mutilação
ITT CIA Pinochet
o capitalismo apostado
no seu abraço fatal

         A traição de um ideal
a avidez do mando
um nada a pretender ser tudo
percebe-se
mas uma sujeição consentida
e desvergonha assumida
nunca lhe darão estatura
nem se lhe obriga a zurrar
Fique mudo por favor
fique mudo criatura
falar muito é muito errar



domingo, 24 de setembro de 2017


A terra arfa e parece parir
- Bomba com ela. Não a deixem fugir
A Venezuela é nossa
A Bolívia é nossa
A Nicarágua é nossa
Todo o mundo é nosso
- Posso
         pergunta da porta o medroso sô Silva
- Entra rafeiro, eu sei que a rosinha* é só verbo de encher
Vai ali à cozinha e pergunta ao copeiro o que há para comer


*”rosinha” ou mãozinha, vá-se lá saber.


Cego que fosse
eu veria ainda agonias estertores dos milhares de corpos
Surdo que fosse
ouviria ainda
unhas quebradas nas escarpas da esperança
Idiota que fosse
         ainda assim saberia
                   que não se travam misérias fechando portas e portos
Capitalista que fosse
         entenderia decerto
         só se deter a evasão
         pondo fim à exploração
         e o Mar da Morte não se espraiaria em mortos
Mediterrâneo foi antes
o Mar da Morte
dia a dia hora a hora
a Europa mafiosa
sacrifica ao minotauro
despojos das suas pilhagens
homens mulheres crianças
encadeados na esperança
de uma mão acolhedora
que como resposta pronta
ergue muros cava valas
tem campos de concentração
Venha só quanto possuam
                   eles não
23% mais de lucros no semestre findo
Locupletadores fatais
Farmacêuticas Total e Paribas
Lá como cá
                   a crise dá
Distinguimo-nos nós
com um presidente a pé
recompondo aos poucos
a direita escavacada e
o socialismo de fachada
rendido desde há muito à negação
O deputado eleito
videiro no seu jeito
ou se assenta na bancada
ou na poltrona de gestão
em empresa confortada
com leis que ele próprio faz
Mas todo o teatro montado
é caro e tem de ser pago
Vá rapaz faz-te ao trabalho
sábado domingo feriado
que o burro bem ensinado
anda sempre a passo certo
esteja o dono amodorrado
ou desperto
                   usufruindo
Patrício nobre banqueiro
a fatalidade do fim
                   loucura corrupção
Degenerativo o dinheiro
desmesura enlouquece
Nada apetece que não seja o brilho
Explica-se
         a traição do filho
         a crueldade inumana
         os fornos de cremação
e da choupana ao palácio
o pascácio tudo esquece
Vital
         é chegar ao moreiral
Creio na força da expressão directa
simples sem peias
a rejeitar estilismos
Se é arte ou não
decidam os tarifados
ao tarifário da época
Caiu o homem
                   legando uma utopia
A história o julgará
                            um dia
e a nós
            poltrões
o mundo esquecerá
bípedes sem história
reproduções do nada

Floriu
         depois de já ter tudo
excepto
         o olhar futuro
de homem ou mulher

reconhecido por ser
e não por ter
quer a trabalhar a terra
dar de comer
ou entrever
o mais além
na arte ou no saber

A corrupção esqueceu-o
e antes isso que manchar-lhe o nome
Tarde mas sempre exacta
há-de a verdade lembrar a data
e Vasco amigo
         honrar-te-emos